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Archive for the ‘nós do morro’ Category

Reportagem: Juliana Tinoco e Regina Trindade
Edição: Carlos Augusto

Mesa da tarde de segunda

A mesa da segunda rodada de palestras contou com a presença de Barbara Szaniecki (PUC-Rio e Universidade Nômade), Ivana Bentes (ECO-UFRJ e Universidade Nômade) e Luiz Paulo Correa e Castro (Nós do Morro, RJ).

Barbara Szaniecki deu abertura à discussão fazendo uma alusão ao Leviatã de Thomas Hobbes , monstro soberano que puniria os homens por não cumprirem o contrato social estabelecido para a manutenção da ordem. Barbara diz, baseada em Antonio Negri, que na contemporaneidade houve uma ruptura no conceito do Leviatã, e nas cidades impera a desobediência. Ela afirma que a “monstruosa exploração capitalista” leva à “monstruosa resistência da multidão”, expressa na intervenção urbana por meio de cartazes, pichações, ocupações de prédios e manifestações. Segundo Barbara, o cartaz assume na rua sua vulgar reprodutibilidade e, através dos movimentos das pessoas, eles ganham mobilidade. Esses movimentos podem ser caracterizados pelos “homens e mulheres cartaz”.

Ivana Bentes, a segunda palestrante, deu continuidade à idéia de “monstro”, citando o aumento da visibilidade da produção cultural vinda das favelas, veiculada tanto nas grandes mídias quanto fora delas. Afirmou que existe uma produção cultural lateral que influencia toda a sociedade. Essa produção lateral pode ser entendida como uma “esquizofrenia bipolar”, na qual os produtores da cultura são os mesmos personagens criminalizados. Segundo Bentes, não é mais possível separar os produtos dos produtores, ambos circulam continuamente.

Ela discutiu, ainda em relação à esquizofrenia bipolar, sobre a questão da “pobreza positivada e normatizada” versus a idéia de marginalidade atribuída, quase que simultaneamente, às favelas e periferias. Ivana exemplificou essa situação com a figura do negro no jornalismo e nas demais expressões culturais. De acordo com ela, no jornalismo, o negro e seu ambiente é mostrado com o estigma do medo, do risco, da fatalidade; algo quase monstruoso. Por outro lado, mostra como a moda, citando apenas um dos exemplos, simboliza o negro como o “produtor de estilo”. “O negro belo vende”, diz. Ela situa o Brasil como o lugar onde a pobreza é pano de fundo para nossa originalidade, na qual os pobres são figurantes de um “super espetáculo global”.

A palestrante também discorreu sobre a estética funk e o pós-feminismo, destacando a revolução do comportamento sexual feita pela periferia que chega e perturba a classe média. Ivana diz que os movimentos culturais são “embriões de políticas públicas”, pois têm sucesso onde o Estado fracassou. “Nenhum discurso estético é neutro; todos eles são a materialização e expressão de discursos diversos”, diz Bentes.

O terceiro palestrante , Luiz Paulo Correa e Castro, falou sobre suas experiências no projeto “Nós no Morro” existente no Morro do Vidgal no Rio de Janeiro. O “Nós no Morro” foi idealizado por Guty Fraga depois de um contato com o teatro independente de Nova YorkeIorque. Guty sentiu a necessidade de montar um projeto que desse infra-estrutura aos talentos existentes dentro da comunidade do Vidgal. Assim surgiu o “O Nós no Morro”, baseado primeiramente no teatro.Hoje ele conta com cursos de formação em cinema e é patrocinado pela Petrobrás. Luiz Paulo, um dos idealizadores do projeto juntamente com Guty, falou sobre a importância dele para as pessoas da comunidade. “Algumas mães até choram quando seus filhos não conseguem entrar nos cursos de formação”. Luiz Paulo disse que esse ano foram inscritos mais de 850 pessoas, de 7 a 70 anos, para as 150 vagas. O projeto, de acordo com Luiz Paulo, quer fugir do esteriótipo de “teatro de favela” e mostrar um teatro profissional não inferior às grandes companhias. Mas ele diz que não é muito fácil, pois a mídia de uma forma geral não ajuda muito, colocando o “Nós no Morro” apenas como mais uma escolha para os membros do Vidgal fugirem do tráfico e da violência. “Seria fundamental mudar o olhar sobre a favela”, diz.

A segunda rodada de palestras foi concluída com um debate e finalizada às 17 horas. A programação segue com o show de Jazz na Curva da Jurema, às 19 horas.

Barbara SzanieckiIvana BentesLuiz Paulo Correa e Castro

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