Reportagem: Gisele Pereira e Carlos Augusto
Edição: Monique Mansur e Carlos Augusto
A última rodada de palestras do seminário começou com a editora assistente de internet da Editora Abril, Ana Maria Bambrilla, afirmando que o jornalismo não está com seu futuro comprometido, visto que o campo de atuação de um jornalista é bem amplo. Por exemplo, no jornalismo colaborativo, em que o cidadão participa como agente social da notícia existe a figura do profissional para “regular” as produções enviadas. É o que ocorre no Oh My News, Vc Repórter no Portal Terra, O Estadão e Vc no portal G1, locais que aceitam publicações cidadãs, mas que são revisadas pelos jornalistas antes de serem publicadas.
Colaborativo X Comercial
Bambrilla acredita que o jornalismo colaborativo não descarta o comercial, como nos casos citados anteriormente, sendo este uma nova forma de percepção, de olhar do fato, uma nova área de discussão onde o cidadão se torna repórter e pesquisador no seu contexto social. Ao contrário dos que muitos pensam, essa forma de informar é muito mais difícil do que parece, uma vez que o cidadão comum não está familiarizado com a linguagem jornalística e muitos ainda não dominam por completo a complexa linguagem da internet, além das faculdades não se atentarem para este novo rumo da comunicação. Mas, mesmo sem dominar essas técnicas, o jornalismo precisa desse cidadão participativo que está presente em todos os lugares e momentos com seus celulares e máquinas digitais em punho para documentar os fatos. E para “instruir” esses cidadãos comuns a criar suas notícias, o blogueiro Roberto Romano disponibilizou na internet, no modelo creative commons, uma coleção inteira de publicações que incentiva os cidadãos a entrarem nesse campo, a Coleção Conquiste a Rede.
Diploma X Experiência
Roberto Romano, do Zero Blog Network Jornalismo, pôs em discussão que a única diferença entre um internauta que produz sua notícia e um jornalista é apenas o período em que o repórter ficou na faculdade. A grande questão em que está pautada o que é ou não competência do jornalista é o fato de que nos baseamos na antiga concepção de trabalho, onde só seria reconhecido como profissional aquele que dominasse as técnicas jornalísticas. A nova concepção, como bem explicou Mauricio Lazzarato e Giuseppe Coco acerca da cultura no capitalismo contemporâneo, é que a profissionalização deixou de ser material para ser cognitiva. Dessa forma, qualquer um que pensar uma problemática passa a ser produtor de informação, e não apenas um mero receptor. Então, por que não chamá-lo de jornalista? Isso é nítido nos posts dos blogs, onde são publicados textos sem técnicas, mas ainda com o caráter informativo da notícia, influenciando, assim, novos usuários.
O colaborativo na grande mídia
Durante todo o bate-papo, modelo proposto pelos palestrantes no lugar da formalidade de palestra, sugerindo uma “despalestra”, Romano e Brambilla lembraram dos últimos acontecimentos em que as melhores imagens, documentações e matérias foram feitas a partir de celulares e câmeras digitais. Também foram publicados nos blogs pelos repórteres colaborativos e, mais tarde, veiculados pelas grandes mídias. Os exemplos citados por eles foram as imagens do tsunami na Ásia, da execução do Saddan, da ocupação dos estudantes à reitoria da USP, dentre outros.
Ponto de Cultura
Encerrando os pronunciamentos, Orlando Lopes, do Ponto de Cultura (PdC) Salvamar, lembrou que o interior do Brasil continua sem ser atingido pela grande mídia, sendo necessário que a própria população local seja produtora de informação. Para isso, o PdC disponibiliza meios técnicos e cognitivos para a realização de projetos que coloquem em prática todos os conceitos de jornalismo participativo e cidadão.
Após as explanações, foi aberto um debate bastante produtivo, plural e comum, em que vários pontos de vista acerca dos assuntos colocado em discussão foram externados, mas que logo teve que ser interrompido, já que os palestrantes tinham que retornar às suas cidades de origem. Portanto, fica agora, o ensejo de continuar essa discussão no seminário que se realizará nas outras capitais do Brasil, Rio de Janeiro, Salvador e Belém, entre os meses de maio e agosto.
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