Reportagem e edição: Catarina Carneiro
A frase é de José Roberto dos Santos Neves, jornalista capixaba e referência quando o assunto é crítica musical.
Pois é, estou aqui levantando a primeira pauta a cair: sexta à noite. Como meu blog, Azul e Rosa, fala sobre o Espírito Santo, Luiz Paulo, minha dupla de blog, resolveu cobrir a homenagem feita à Clara Nunes pela cantora capixaba Dennise Pontes. Mas, meu querido amigo chegou virado de Muqui e só queria saber de dormir na sexta à noite. Conclusão: sobrou para mim. Sai da palestra da manhã procurando o ser bondoso que poderia fazer isso por mim, mas já tava todo mundo cansado. Ainda insisti à tarde, mas o zumbi do Luiz Paulo queria dormir. Tive que pegar o segundo 500 lotado do dia. Fiz isso morrendo de medo. O centro de Vitória é perigoso para circular sozinha à noite. Cheguei e fui ler o texto que apresentava a exposição de fotos e que me apresentava à Clara Nunes. A surpresa: assinado por José Roberto dos Santos Neves. Fiquei muito feliz porque significava para mim o reconhecimento por outras pessoas de um grande crítico musical que o Espírito Santo abriga. E o texto era ótimo! Depois de informada pelo texto, minha colega de sala, Gisele, emprestou-me o texto de A Gazeta sobre aquele dia do evento. Estava pronta para procurar a Dennise…
Dennise Pontes
Pergunta norteadora da conversa: Por que Clara Nunes? Dennise disse que foi convidada pelo crítico musical José Roberto dos Santos Neves, estudioso apaixonado pela Clara, com quem também conversei. O escolha se justifica porque o trabalho da cantora capixaba se identifica com o da mineira. Dennise tem infuência dela e as duas têm influência afro-brasileira. A interpréte fala sobre a apresentação:
“O show é uma homenagem à Clara com as músicas que foram imortalizadas por ela mesma. Canto ainda minhas canções que fazem parte deste universo: carnaval, afro-brasileiro. ‘Mundo Gira’ e ‘Bem Brasileira’ são dois exemplos: a brasilidade e a Clara Nunes”
Brasilidade
Essa é a palavra sempre mencionada quando se fala em Clara Nunes. Dennise Pontes citou este como um ponto em comum na sonoridade e personalidade dela e da Clara. O mesmo falou o já citado José Roberto. Sobre Clara, sobre Dennise e sobre sua mistura Clara/ Dennise. Ele comenta:
“A Clara representa o Brasil. Enquanto o rock e a discoteca estavam no auge no país, ela cantava sobre carnaval, as raízes negras, a umbanda e o candomblé. Ela tocava o que tinha no Brasil. Se tivesse conhecido o congo, teria tocado também. Muitos falam que ela é carioca. Outros perguntam se ela é baiana. Mas ela é mineira”
Até intervi nesse momento, Luiz Paulo tinha afirmado para mim: “Ela é capixaba. Saiu de Vila Velha com doze anos!” Então, pude concluir com José Roberto que ela é mesmo brasileira! O jornalista conheceu a cantora quando ela começou a aparecer na televisão em 1966. Ele pode vivenciar toda carreira de Clara.
“Ela foi uma das cantoras brasileiras mais importantes. A primeira mulher a vender 500 mil cópias!”
E conclui:
“Depois da morte de Clara Nunes ficou uma lacuna”
A lacuna, hoje, é preenchida pelas homenagens à artísta. Dennise Pontes faz sua parte. O grupo mineiro “Contos de Areia – um canto à Clara Nunes”, que se apresentou ontem na Estação Porto também. E assim vão criando sinônimos para o sinônimo da brasilidade.
Mais sobre a Clara:
A homenagem, que contou ainda com um debate sobre a musicalidade de Clara Nunes, representou o encerramento bastante cultural do Seminário Internacional “A Constituição do Comum: Cultura e Comunicação na Cidade”, que trouxe à população discussões e propostas sobre a comunicação e a cultura na sociedade atual.